NOSSA HISTÓRIA

(Um Compêndio)
Gaspar Bertoni: Nascimento, Infância e Adolescência

Gaspar Luís Dionísio Bertoni nasceu na tarde de 9 de outubro de 1777, a cem metros da Paróquia de São Paulo in Campo Marzo, em Verona, cidade de fronteira com a Áustria, no norte da Itália.

Paróquia de São Paulo, em Campo Marzo, Verona
Paróquia de São Paulo, em Campo Marzo, Verona

Sua mãe, Brunora, que trazia a sensibilidade e a suavidade típicas da gente do lago, passaria por um profundo sofrimento, devido ao gênio rude e a incapacidade do marido de administrar os bens da família.

Tendo o pai rompido com toda a parentela, tiveram que segui-lo, retirando-se para o campo. Voltaram 2 anos depois, quando era chegado o momento do período escolar para o menino.

Aos 9 anos, Gaspar perdeu a irmã Metilde, de 3 anos, vitimada pela varíola, que infestava Verona. Foi um acontecimento dramático em sua vida.

No final de 1788, aos 11 anos, recebeu a primeira Comunhão, e a lembrança daquele encontro permaneceu viva durante toda a sua vida, tanto é que, 20 anos depois, já sacerdote, escrevia em seu memorial privado: “Grandíssima devoção e afeto como no dia da primeira Comunhão, e que nunca havia tido depois”.

Depois de frequentar o primeiro grau, o menino Gaspar iniciou os estudos de humanidade, aos quinze anos.

Desde a tenra idade, surpreendia a todos o seu especial interesse pelo mundo da gente pobre, e a sua paixão pela Eucaristia. Jamais faltava a visita cotidiana a Igreja, sendo este o meio mais seguro para colocar aos pés do tabernáculo suas alegrias e esperanças, e encontrar forças para superar as dificuldades típicas da adolescência.

O Contexto de Verona

Naquela época, Verona era palco de guerra entre os exércitos francês, de Napoleão Bonaparte, e austríaco. Os exércitos invasores ocupavam a cidade de um lado e de outro do rio Ádige. Em função da guerra, a cidade vivia um clima de desordem e libertinagem: os feridos de guerra lotavam os hospitais; os jovens sofriam com a falta de escolas; a paralização de atividades artesanais e comerciais provocaram alto desemprego; as devastações dos exércitos haviam reduzido à miséria a maior parte da população.

Vista aérea de Verona, com o Rio Ádige

A mendicância havia se tornado comum, mesmo aos mais jovens. Os ‘trombadinhas’ não tinham mais número: eram bandos de meninos e meninas que se espalhavam pela cidade, causando medo na população.

Também, naquele tempo, os cárceres viviam superlotados: presos políticos, delinquentes comuns, menores desviados, etc, não faziam mais do que multiplicar incômodos e violências de todo tipo.

Até mesmo o clero havia se deixado afetar por aquele clima adverso, entregando-se à vida mundana.

O Despertar da Vocação Sacerdotal de Gaspar

Foi o pároco de São Paulo, Pe. Francisco Girardi, que convidou o jovem de 18 anos para fazer uma doação total de sua vida ao Senhor.

Gaspar viu nas palavras do pároco o convite de Deus, e não mais hesitou: no dia 3 de novembro de 1795 começou a frequentar, como aluno externo, o curso de Teologia no seminário.

O Seminarista Gaspar
O seminarista Gaspar com os meninos, no Oratório Mariano

Em seus tempos como seminarista, o jovem Gaspar se empenhou no auxílio aos feridos de guerra e na instrução da juventude. Fundou Oratórios Marianos, onde reunia a juventude para orar e meditar a Palavra de Deus, e também para lazer e ocupações sadias, tirando-a daquele clima adverso que reinava na cidade. Os jovens formados por ele passaram a ser bem aceitos em todos os locais, pelo seu bom comportamento e aplicação no trabalho e nos estudos. Pe. Gaspar encaminhou esses jovens para artes e atividades através de preparação especializada, e mostrou-lhes o caminho da perfeita vida cristã.

Ordenação Sacerdotal

Gaspar concluiu o curso teológico aos 21 anos. Já estava maduro para uma nova etapa da sua vida, e em 9 de março de 1799 recebeu a ordem do subdiaconato, e um ano depois, em 12 de abril, foi ordenado diácono.

Justamente neste ano, um drama familiar ainda marcaria profundamente a vida de Gaspar: a separação dos pais, decidida de comum acordo entre eles.

Ainda no mesmo ano de 1800, aos 20 de setembro, próximo de completar 23 anos, Gaspar recebia a ordenação sacerdotal.

Início de seu Ministério Sacerdotal
Padre Gaspar em suas pregações ao povo

Convocado por seu bispo, Padre Gaspar foi eloquente pregador nas missões populares na Paróquia de San Fermo, em Verona, tanto que, mesmo naquele clima de revolta, as pessoas ouviam atentas as suas pregações e se convertiam. Pela excelência de seu trabalho nessas missões populares, ele recebeu da Santa Sé o título de Missionário Apostólico, em 1817.

Ainda a pedido de seu bispo, trabalhou na reforma do Clero de Verona, que também fora atingido por aquele clima de libertinagem causado pela guerra. Também aí empenhou-se a tal ponto em seu trabalho que os padres e seminaristas passaram a ser reconhecidos como modelos de disciplina e zelo.

Primeira grave enfermidade de Padre Gaspar

Por volta de 1812, portanto aos seus 35 anos de idade, Pe. Gaspar contraiu a miliar, gravíssima doença contagiosa, que o levou à beira da morte. Foi uma oração unânime pelo seu restabelecimento. Dois dias depois de ter ditado as suas últimas vontades ao tabelião, estava fora de perigo.

Fundação da Congregação dos Sagrados Estigmas

Era tão profunda a vida de oração de Padre Gaspar, e a sua união com Deus, que ele vivia constantemente sob o influxo do sentimento da presença de Deus. Vivia o Santo Abandono, que significa deixar que Deus conduzisse a sua vida, e, como ele nos ensinou: sem jamais precedê-lo. Assim, em tudo ele percebia a vontade de Deus em sua vida, e tudo fazia para realizá-la. Pode-se resumir a fisionomia espiritual de São Gaspar com essas palavras: Filial e confiante abandono nas mãos de Deus, mesmo nas circunstâncias mais difíceis da vida.

Assim, um dia, diante do altar de Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas, Pe. Gaspar teve uma visão: era como se o santo lhe pedisse para fundar uma ordem religiosa. Seria uma tarefa quase impossível, pois, temendo qualquer reação contra eles, os invasores da cidade haviam proibido quaisquer reuniões ou aglomerações de pessoas. As ordens religiosas eram proibidas e até suprimidas, e até a ordem dos Jesuítas havia sido suprimida, na época.

Igreja, Casa, Escola e Convento dos Estigmas, em Verona

Mas Pe. Gaspar, percebendo ser esta a vontade de Deus, passou a se reunir com alguns companheiros, com o objetivo inicial de estudos. E, como lutava para conseguir instalações para fundar uma escola para os meninos pobres, foi lhe dado um prédio anexo à Igreja dos Estigmas, para esta finalidade.

A Igreja recebia este nome porque era dedicada às chagas ou estigmas que São Francisco de Assis recebera, ao modo dos que feriram mãos, pés e peito de Jesus, e estava fechada há muito tempo. Para ser reaberta, necessitava de reformas, assim como o prédio.

Assim, no frio 4 de novembro de 1816, Pe. Gaspar entrou com dois companheiros no prédio, para iniciar a escola, e este mesmo dia foi o marco de início da congregação que ele estava fundando.

Com Pe. Gaspar entraram nos Estigmas, naquele dia: Pe. Giovanni Maria Marani, seu velho discípulo, e o torneiro Paulo Zanolli, com apenas 23 anos, de São Firmo, que passou a ser cozinheiro e almoxarife, sem nada entender do riscado.

Início da Vida nos Estigmas

Foram imensos os trabalhos necessários para iniciar a escola e reabrir a Igreja, mas a pequena comunidade empenhou-se a fundo, e no ano seguinte tudo já estava funcionando. Os aposentos eram os mesmos para escola e quartos de dormir, então diariamente trocavam-se as camas por carteiras, e vice-versa.

Na primavera de 1817 foram restaurados os vitrais da Igreja, e iniciaram-se os trabalhos no telhado. A reforma era lenta, e os padres, nos momentos livres, trabalhavam como serventes de pedreiro, para acelerar a obra. O próprio Pe. Gaspar, conforme a lembrança de uma testemunha ocular, foi visto muitas vezes “com o carrinho de mão, fazendo as vezes de servente”.

Padre Gaspar auxiliando na reforma do prédio dos Estigmas

O segundo ano nos Estigmas iniciou com oitenta alunos. O trabalho crescia, e, em outubro de 1817, passou a ser comandado pelo Pe. Caetano Brugnoli, arquiteto, que acabara de ingressar nos Estigmas.

A Igreja dos Estigmas, finalmente colocada em ordem, foi aberta ao público.

O painel do altar mor era uma preciosa pintura de um autor desconhecido e representava os “Esponsais de Maria e José”. Pe. Gaspar confiou toda a obra nascente à proteção deles, e os indicou como modelos e patronos.

A Família Religiosa e Suas Cruzes

Aos poucos, a família religiosa foi crescendo, mas não sem as suas cruzes.

Por volta de 1818, Padre Gaspar ficou gravemente enfermo, com constantes recaídas. A doença atingiu também Padre Luís Bragatto, seu filho predileto.

O ano de 1824 marcou mais uma etapa dolorosa na vida de Pe. Gaspar: a perna direita inchou rapidamente, e, à altura da tíbia, apareceu um pequeno tumor, que se estendeu progressivamente até o joelho. Ele estava com 47 anos. A tentativa de cura por meio de emplastros não alcançou êxito, o que fez o médico decidir pela intervenção cirúrgica. Mas as incisões, submetendo o paciente a terríveis sofrimentos, também não conseguiram debelar o mal.

Deve ser lembrado que, naquele tempo, não havia nenhum tipo de anestesia; cortava-se em carne viva, na medida em que o paciente estava em condição de suportar.

Padre Gaspar foi acometido por graves enfermidades por muitos anos de sua vida

Pe. Gaspar enfrentou aquela prova com uma serenidade e com uma força de ânimo incrível. Jamais saiu uma queixa dos seus lábios, mas somente alguma invocação ou prece. Somente por uma vez viram-se lágrimas molharem o seu rosto: o cirurgião, para tirar a cárie do osso, havia perfurado o fêmur.

As intervenções, que se repetiam a intervalos cada vez mais frequentes, deixavam-no em um estado de fraqueza extrema. A escola a que Deus o chamava, a do sofrimento, jamais foi vista como um castigo, mas como uma cruz preciosa, que a seu tempo produziria frutos de bem.

Juntamente com longos períodos de imobilidade absoluta, alternavam-se momentos em que podia parcialmente retomar as suas atividades, embora reduzidas. Mas a doença nunca mais abandonou Padre Gaspar.

Em 1820, a primeira morte na família religiosa: Padre Mateus Farinati não resistiu às consequências do tifo, doença que adquiriu quando atendendo espiritualmente pessoas contaminadas.

Regras e Lema da Congregação

Padre Gaspar foi aos poucos escrevendo as regras para a Congregação Estigmatina, conforme ia percebendo a expressão da vontade de Deus, em suas orações.

E, para o lema da congregação, inspirou-se no título que havia recebido da Santa Sé, em 1817, e em seu profundo respeito aos bispos, sucessores dos apóstolos. Então, ele assim definiu o lema de sua congregação:

Missionários Apostólicos em Auxílio aos Bispos
Patronos da Congregação
Padre Gaspar confiou a sua congregação ao Patrocínio dos Santos Esposos Maria e José

Padre Gaspar escolheu para Patronos da Congregação os Santos Esposos Maria e José, em seus Esponsais.

Morte e Canonização de Padre Gaspar

Padre Gaspar foi chamado de volta à Casa do Pai em 12 de junho de 1853, aos 76 anos incompletos.

Ele foi Beatificado pelo Papa Paulo VI em 1 de novembro de 1975, e Canonizado pelo Papa João Paulo II em 1 de novembro de 1989.

A Congregação pelo Mundo

Nos dias de hoje, a Congregação dos Sagrados Estigmas está presente em várias nações do mundo, como:

Europa:
  • Itália, Inglaterra and Georgia;
África:
  • Costa do Marfim, Botswana, Tanzânia, Malawi e África do Sul;
Ásia:
  • Tailândia, Filipinas, Índia e Indonésia;
Américas:
  • Brasil, Chile, Paraguai, e Estados Unidos.

E são as seguintes as principais sedes de governo da Congregação Estigmatina, e seus respectivos links para acesso e contato:

Cúria Geral – Roma, Itália

Província Sagrado Coração – Verona, Italy (incluindo Costa do Marfim, Georgia e Inglaterra)

Província Santos Esposos – Springfield, MA, Estados Unidos

Provincia Santa Cruz – Rio Claro, SP, Brasil (incluindo Chile e Paraguai)

Província São José – Goiânia, GO, Brasil

Província Maria Estrela Matutina – Sampran, Thailand

Província Santíssimo Redentor – África do Sul (incluindo Tanzânia, Botswana e Malawi.

+